domingo, 20 de fevereiro de 2011

Manejo de tracajás: União em prol da sobrevivência

 
Tracajá do Xingu
          
         Hoje habitam o Parque Indígena do Xingu mais de 5.000 índios de 14 etnias diferentes. A alimentação destas populações vem do que plantam e do que recolhem na natureza. Entre seus alimentos tradicionais, está o tracajá (Podocnemis unifilis), espécie parente da tartaruga da Amazônia, que ocorre nas bacias dos rios Amazonas e Tocantins - Araguaia. Sua importância na alimentação desses povos decorre especialmente do alto teor de proteína encontrado nos ovos e na carne desse animal. Assim, pesca do tracajá é proibida em todo o país, mas não nas terras indígenas. 
Prato à base de tracajá


Nos últimos anos, entretanto, os índios vêm alertando os órgãos ambientais sobre a diminuição das populações do réptil. Fatores como o crescimento da população indígena do Parque, desmatamento, poluição das cabeceiras dos rios e o aumento do número de barcos a motor, entre outros, têm levado a uma queda no número de tartarugas em todos os estágios do seu ciclo de vida.
Existe ainda um fator que pode agravar a situação: A construção da hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu (Veja: Polêmica da Usina de Belo Monte – Uma história, vários pontos de vista!”). Os fluxos hidrológicos serão alterados, o que pode afetar negativamente as populações de tracajás, já que sua reprodução depende da cheia do rio na primeira metade do ano, que inunda as florestas vizinhas, onde estes animais se alimentam e se refugiam.
Por isso, o povo Kamayurá pediu ajuda à Embrapa e ao IBAMA para recuperar a população desses quelônios. Há quatro anos eles monitoram as praias da região e protegem os ninhos de tracajá com telas, para evitar que os filhotes sejam comidos por predadores.

Índios Kamayurá

Em 2007 e 2008, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a FUNAI e o Instituto Chico Mendes uniram esforços para auxiliar os índios Kamayurá - Morená em um trabalho de recuperação das populações da tartaruga em áreas próximas à aldeia, protegendo algumas praias do rio Xingu da extração de ovos, filhotes e adultos.
O projeto tem como premissa a conservação ambiental no parque e como objetivo manter os estoques populacionais de tracajás, ressaltando que todo o trabalho conta com a participação dos índios.
Dentro do projeto também foi lançada uma cartilha que apresenta parte do trabalho de conscientização dos povos indígenas a partir de ilustrações feitas por membros da própria comunidade. A mesma ainda conta com frases explicativas em dois idiomas: português e kamayurá (língua natal da aldeia).
O trabalho de manejo dos tracajás tem obtido sucesso e existe a previsão de que ainda neste ano, cerca de 10 mil filhotes sejam soltos no rio.

Filhotes de tracajá para serem soltos na natureza



Os Kamayurá, por enquanto, são os únicos índios engajados na manutenção da espécie, mas essa participação não deixa de ser um passo importante para a segurança da cadeia alimentar regional como um todo.
É válido ressaltar que a cartilha lançada apresenta ao público, de forma lúdica, os principais passos e resultados obtidos a partir do esforço conjunto de indígenas e pesquisadores. E mostra que o trabalho de manejo e a sensibilização das populações do Parque do Xingu podem resultar em impactos positivos para todas as populações à margem do rio Xingu.
Essa ação certamente servirá de exemplo para a sociedade brasileira como um todo, pois evidencia a realização de um trabalho bem sucedido de preservação e conscientização ambiental, transcendendo as diferenças étnicas e sócio-culturais.

Veja ilustrações do Manual de Manejo dos Tracajás feitas pela própria comunidade indígena: Manual de Manejos de tracajás

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