domingo, 17 de abril de 2011

Um recurso indispensável merece mais atenção!

O Amazonas corta todo o norte da
América do Sul, sendo o maior do
planeta tanto em volume quanto
em extensão
Vivemos em um país onde fontes de água não são raridade, prova disso é que 53% do manancial de água doce disponível na América do Sul encontra-se em território brasileiro, assim como o maior rio do planeta (rio Amazonas). Um dos motivos dessa condição privilegiada é o clima que pode ser equatorial, tropical e subtropical dependendo da região, proporcionando elevados índices pluviométricos. No entanto, apesar da grande disponibilidade de recursos hídricos, o país já sofre com a escassez de água potável em algumas localidades. Esse fato deve-se à distribuição irregular da água doce disponível no território brasileiro: aproximadamente, 72% dos mananciais estão na região amazônica, cabendo 27% à região Centro-Sul e apenas 1% à região Nordeste. Por outro lado, a maior parte da nossa população e atividade econômica está em grandes centros urbanos na região Sudeste, mais próxima da bacia do rio Prata, onde a oferta de líquido potável é cada vez mais menor.
E assim o mundo está descobrindo que a escassez de água não é uma questão exclusiva de quem mora em regiões desérticas. Segundo as projeções mais recentes da ONU, no ritmo de uso e do crescimento populacional, nos próximos 30 anos, a quantidade de água disponível por pessoa estará reduzida a 20% do que temos hoje.
São Paulo, a maior cidade do país está perto do seu limite hídrico e já importa água. O volume de rios e represas disponível hoje é praticamente igual à demanda da população. As represas da região metropolitana, abastecidas por nascentes, suprem apenas metade do consumo da cidade, então o déficit é compensado com o bombeamento de água da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que naturalmente correriam pelo interior do Estado.

OS DESAFIS SÃO MUITOS...

Rio em tom de vermelho, contaminado por
mercúrio devido à garimpagem ilegal
na área Yanomami

A qualidade da água captada para tratamento vem sendo comprometidos pela queda de qualidade das águas dos rios e lagos brasileiros. Na região amazônica e no Pantanal, rios como o Madeira, o Cuiabá e o Paraguai já demonstram contaminação pelo mercúrio e metal utilizado no garimpo clandestino, e pelo uso de agrotóxicos nos campos de lavoura. Em contrapartida, nos grandes centros urbanos, o comprometimento da qualidade é causado por despejos de esgotos domésticos e industriais, além do uso dos rios como convenientes transportadores de lixo.
Problemas relacionados ao descarte de dejetos em fontes hídricas também atingem os principais rios e represas de diversas cidades brasileiras, onde hoje vive 75% da população:
  • Em Porto Alegre, o rio Guaíba está comprometido pelo lançamento de resíduos domésticos e industriais, além de sofrer as consequências do uso inadequado de agrotóxicos e fertilizantes.
  • Brasília, além de enfrentar a escassez de água, tem problemas com a poluição do lago Paranoá.
  • A ocupação urbana das áreas de mananciais do Alto Iguaçu compromete a qualidade das águas para abastecimento de Curitiba.
  • O rio Paraíba do Sul, além de abastecer a região metropolitana do Rio de Janeiro, é manancial de outras importantes cidades de São Paulo e Minas Gerais, onde são graves os problemas relacionados ao garimpo, à erosão, ao desmatamento e ao esgoto.
  • Belo Horizonte já perdeu um manancial para abastecimento - a lagoa da Pampulha - que precisou ser substituído pelos rios Serra Azul e Manso, mais distantes do centro de consumo. Também no rio Doce, que atravessa os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a extração de ouro, o desmatamento e o mau uso do solo agrícola provocam prejuízos enormes à qualidade de suas águas.
  • Rio Tietê, contaminado por esgoto, resíduo industrial e lixo
  • O Estado de São Paulo sofre com a escassez de água e com problemas decorrentes de poluição em diversas regiões: no Alto Tietê junto à região metropolitana; no rio Turvo; no rio Sorocaba, entre outros.
Outro fator agravante é a ausência de saneamento básico nas residências brasileiras. Atualmente, 55% da população não têm água tratada nem saneamento básico. Precisam ser desenvolvidas políticas públicas para reverter esse quadro. Pesquisas indicam que para cada R$ 1,00 investido em saneamento, o governo deixa de gastar R$ 5,00 em serviços de saúde, ou seja, são investimentos que proporcionam qualidade de vida para a população e economia aos cofres públicos em curto e médio prazo.

Irrigação de lavouras consome mais
água do que o necessário

Mais um grande desafio para a gestão dos recursos hídricos está na agricultura e na pecuária. A agricultura irrigada é a que mais desvia água da natureza, utilizando 70% do volume total extraído do sistema global de rios, lagos e mananciais subterrâneos. Um agravante é o desperdício nessa área, apenas 40% da água desviada é efetivamente utilizada na irrigação. Os outros 60 % são desperdiçados, porque se aplica água em excesso, ou fora do período ideal para a planta, pelo uso de técnicas de irrigação inadequadas ou, ainda, pela falta de manutenção nesses sistemas de irrigação. Estima-se que até 2025, a atividade agrícola com uso da irrigação irá crescer de 20 a 30 %.

EXISTEM SOLOUÇÕES???

A proteção dos mananciais que ainda estão conservados e a recuperação daqueles que já estão prejudicados são modos de conservar a água que ainda temos. Mas isso apenas não basta. É preciso fazer muito mais para alcançarmos nosso objetivo de modo que o uso da água se torne cada vez mais eficiente.
Mas o que fazer e como fazer? Qual o papel de cada cidadão?
O uso racional é a melhor forma de evitar a escassez
Existem pessoas que defendem a privatização das fontes naturais de água, com o argumento de que só assim a sociedade será capaz de gerar recursos para a exploração e gestão das fontes hídricas. Afirmam ainda, ser um fator essencial no caso de países como o Brasil, onde o desafio ainda é garantir água tratada para todos.
Além da privatização, outra solução para mitigar o desperdício seria tornar o consumo de água mais caro. No Brasil, já existem iniciativas como o Comitê de Bacias do Rio Paraíba do Sul, uma região que concentra indústrias entre o Rio de Janeiro e São Paulo. As empresas instaladas na região pagam para tirar água do rio e para devolvê-la à rede de esgoto. Quanto mais poluída estiver a água, maior o preço. Isso resultou na implantação de métodos mais eficientes para utilizar o recurso, diminuindo o consumo e aumentando o índice de reutilização de água.
Na indústria é interessante o desenvolvimento de formas mais econômicas para o uso da água através da recirculação ou reuso, seja na refrigeração de equipamentos, na limpeza das instalações etc., a água pode ser reaproveitada sem prejuízo para a atividade.
Em menor escala, são possíveis atitudes para reduzir o desperdício de água mesmo dentro das residências em atividades cotidianas:

- Aproveitar água da chuva, por exemplo, para lavar o carro ou calçada, regar as plantas;

- Fechar a torneira enquanto se escova os dentes;

- Reaproveitar o papel. Isso é muito importante, pois para produzir papel gasta-se muitos litros de água;

- Acabar com o pinga-pinga da torneira. Uma torneira gotejando, gasta, em média, 46 litros de água por dia;

- Reduzir o consumo doméstico de água potável;

- Não contaminar os cursos d’água;

- Procurar usar detergentes e produtos de limpeza biodegradáveis;

Todas essas mudanças de hábitos são pequenas, no entanto, geram grandes diferenças. Uma sociedade moderna e consciente pensa e age pelo crescimento econômico aliado ao respeito pelo meio ambiente. Racionalizar o uso da água não significa abrir mão de seus benefícios. Significa usá-la sem desperdício, considerá-la uma prioridade social e ambiental. Por isso, faça sua parte!!!

Para ficar mais por dentro do assunto visite os sites sugeridos:

http://www.brasildasaguas.com.br/
http://www.aguabrasil.icict.fiocruz.br/
http://www.brasildasaguas.com.br/videos (você poderá acompanhar o Projeto Brasil das Águas, por meio dos vídeos abaixo)

domingo, 10 de abril de 2011

Porco exótico ajuda a preservar espécies nativas no Pantanal???

O costume pantaneiro de caçar o porco monteiro está ajudando a preservar outras espécies de animais silvestres no Pantanal brasileiro. Essa é a conclusão de um artigo publicado recentemente na conceituada revista Oryx por pesquisadores da Embrapa Pantanal e de instituições internacionais.
Porco monteiro: animal exótico no Pantanal
O porco monteiro é um animal domesticado introduzido no Pantanal há cerca de dois séculos pelos colonizadores, desde então, tem sido considerado como a principal espécie cinegética (de interesse para a caça) na região. Suas populações vivem livres na planície e independentes da atividade humana, exceto pelo manejo tradicional que age como fator de controle populacional dos rebanhos. Sua caça, praticada pela população pantaneira é uma ação protegida por lei, por ter fins de subsistência para as comunidades locais. Sua importância está no fato de que a oferta da carne desse tipo de suíno é constante, aceita culturalmente e prontamente disponível aos consumidores. A gordura obtida é usada para cozinhar alimentos e também conservar carnes.
Dois problemas, que para a biologia seriam considerados graves, acabaram virando solução para preservar espécies nativas do Pantanal: a atividade da caça e a presença de uma espécie exótica na região. Normalmente, essas seriam ameaças ao ecossistema, mas no Pantanal estão ajudando a conservar a fauna local, uma vez que os caçadores preferem o porco introduzido, que funciona como uma espécie substituta das demais. Assim, esta espécie invasora pode estar contribuindo indiretamente para a conservação da fauna autóctone, desviando pra si os possíveis efeitos da pressão representada pela caça.

Queixada: até agora protegido pela caça do porco monteiro

A caça das espécies nativas do Pantanal praticamente não ocorre mais, provavelmente é um dos poucos locais da região Neotropical onde a fauna silvestre e populações humanas coexistem e a caça de animais nativos não é uma prática comum.
No entanto, não se deve desconsiderar o porco monteiro como espécie exótica, o que sugere o potencial desse animal para causar danos ambientais. Não se conhece bem o efeito ecológico da espécie na região e não se sabe se os aspectos positivos da substituição das espécies nativas pelo porco na atividade de caça podem compensar os seus danos potenciais. Sendo assim, é importante lembrar que o impacto do porco monteiro precisa ser melhor definido, especialmente sob aspectos relacionados a mudanças climáticas e impactos antrópicos, como por exemplo, aumento de desmatamento e mudanças no ambiente aquático. Tais alterações podem causar escassez de recursos podendo levar o porco monteiro à competição com as espécies nativas, sabe-se que sob o ponto de vista ecológico esses animais podem competir principalmente com os representates da família Tayassuidae (queixadas e caititus), nativos do Pantanal, o que colocaria em risco a sobrevivência destes.