domingo, 20 de fevereiro de 2011

Manejo de tracajás: União em prol da sobrevivência

 
Tracajá do Xingu
          
         Hoje habitam o Parque Indígena do Xingu mais de 5.000 índios de 14 etnias diferentes. A alimentação destas populações vem do que plantam e do que recolhem na natureza. Entre seus alimentos tradicionais, está o tracajá (Podocnemis unifilis), espécie parente da tartaruga da Amazônia, que ocorre nas bacias dos rios Amazonas e Tocantins - Araguaia. Sua importância na alimentação desses povos decorre especialmente do alto teor de proteína encontrado nos ovos e na carne desse animal. Assim, pesca do tracajá é proibida em todo o país, mas não nas terras indígenas. 
Prato à base de tracajá


Nos últimos anos, entretanto, os índios vêm alertando os órgãos ambientais sobre a diminuição das populações do réptil. Fatores como o crescimento da população indígena do Parque, desmatamento, poluição das cabeceiras dos rios e o aumento do número de barcos a motor, entre outros, têm levado a uma queda no número de tartarugas em todos os estágios do seu ciclo de vida.
Existe ainda um fator que pode agravar a situação: A construção da hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu (Veja: Polêmica da Usina de Belo Monte – Uma história, vários pontos de vista!”). Os fluxos hidrológicos serão alterados, o que pode afetar negativamente as populações de tracajás, já que sua reprodução depende da cheia do rio na primeira metade do ano, que inunda as florestas vizinhas, onde estes animais se alimentam e se refugiam.
Por isso, o povo Kamayurá pediu ajuda à Embrapa e ao IBAMA para recuperar a população desses quelônios. Há quatro anos eles monitoram as praias da região e protegem os ninhos de tracajá com telas, para evitar que os filhotes sejam comidos por predadores.

Índios Kamayurá

Em 2007 e 2008, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a FUNAI e o Instituto Chico Mendes uniram esforços para auxiliar os índios Kamayurá - Morená em um trabalho de recuperação das populações da tartaruga em áreas próximas à aldeia, protegendo algumas praias do rio Xingu da extração de ovos, filhotes e adultos.
O projeto tem como premissa a conservação ambiental no parque e como objetivo manter os estoques populacionais de tracajás, ressaltando que todo o trabalho conta com a participação dos índios.
Dentro do projeto também foi lançada uma cartilha que apresenta parte do trabalho de conscientização dos povos indígenas a partir de ilustrações feitas por membros da própria comunidade. A mesma ainda conta com frases explicativas em dois idiomas: português e kamayurá (língua natal da aldeia).
O trabalho de manejo dos tracajás tem obtido sucesso e existe a previsão de que ainda neste ano, cerca de 10 mil filhotes sejam soltos no rio.

Filhotes de tracajá para serem soltos na natureza



Os Kamayurá, por enquanto, são os únicos índios engajados na manutenção da espécie, mas essa participação não deixa de ser um passo importante para a segurança da cadeia alimentar regional como um todo.
É válido ressaltar que a cartilha lançada apresenta ao público, de forma lúdica, os principais passos e resultados obtidos a partir do esforço conjunto de indígenas e pesquisadores. E mostra que o trabalho de manejo e a sensibilização das populações do Parque do Xingu podem resultar em impactos positivos para todas as populações à margem do rio Xingu.
Essa ação certamente servirá de exemplo para a sociedade brasileira como um todo, pois evidencia a realização de um trabalho bem sucedido de preservação e conscientização ambiental, transcendendo as diferenças étnicas e sócio-culturais.

Veja ilustrações do Manual de Manejo dos Tracajás feitas pela própria comunidade indígena: Manual de Manejos de tracajás

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dicas de Congressos


Há quem diga que não há nada melhor que um congresso pra fazer novas amizades, estabelecer bons contatos e conhecer muita coisa nova! Pensando nisso, selecionamos os principais congressos da área de Biologia que vão ocorrer neste ano! Alguns já estão sendo agendados, mas ainda estão em fase de organização e por isso ainda não podem ser completamente confirmados. Dividimos por área para facilitar a busca! Aproveitem e depois dividam conosco suas experiências.

I CONCRESSO NACIONAL DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Local: Recife- Pernambuco
Tema: Biodiversidade e Florestas: desafios e perspectivas
Período: 29 a 03/09/2011

Genética


11º SIMPÓSIO NACIONAL DE BIOLOGIA MOLECULAR À MEDICINA
Período: 17 a 19 de março de 2011
Local: Londrina , PR

III SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GENÉTICA MOLECULAR DE PLANTAS
Período: 10 a 15 de abril de 2011
Local: Cana Brava Resort, Ilhéus - BA

III CONGRESSO BRASILEIRO DE GENÉTICA FORENSE / II JORNADA LATIONOAMERICANA DE GENÉTICA FORENSE
Período: 10 a 13 de maio de 2011
Local: PUCRS - Porto Alegre RS

57º CONGRESSO BRASILEIRO DE GENÉTICA
Período: 30 de agosto a 02 de setembro 2011
Local: Águas de Lindóia - SP

Ecologia

XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE LIMNOLOGIA
Local: Natal, RN
Período: Doa dia 4 ao dia 09 de setembro de 2011

I SIMPÓSIO DE SUSTENTABILIDADE
Tema: "Homem - Ambiente - Sustentabilidade"
Período: 16 a 18 de setembro de 2011
Local: Hotel Guanabara - São Lourenço - MG
- Inscrições a partir de janeiro de 2011
- Prazo final para submissão de trabalhos - 30 de abril 2011

X CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
Tema: "Ecologia e Gestão Ambiental"
Período: 18 a 22 de setembro de 2011
Local: Hotel Guanabara - São Lourenço - MG
- Inscrições a partir de janeiro de 2011
- Prazo final para submissão de trabalhos - 30 de abril 2011

Botânica

10th Conference of the International Society for Seed Science - ISSS
Local: Costa do Sauípe BA
Período: 10/04/11

IBC2011 - XVIII International Botanical Congress
Local: Melbourne - Australia
Período: 23 a 30 Julho de 2011

62º CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA
Local: Fortaleza, CE
Período: 07/08/11

BIOLIEF 2011 - 2nd World Conference on Biological Invasions and Ecosystem Functioning
Local: Mar del Plata, Argentina
Período: 21 a 24 de novembro de 2011

Parasitologia

22º CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA
Período: 24/8/2011 a 27/8/2011
- Realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - SP
 
Fisiologia Vegetal

XIV Reunião Latino-Americana de Fisiologia Vegetal e XIII Congresso Brasileiro de Fisiologia Vegetal.
Local: Hotel Atlântico Búzios, na cidade de Búzios, RJ.
Período: 19 a 22 de setembro de 2011

Zoologia

Metodologias de Estudos em Mamíferos de Médio e Grande Porte
O curso será realizado nas dependências da RPPN Fazenda Lagoa, no município de Monte Belo do dia 19 ao dia 20 de março/2011

XXII Encontro Brasileiro de Malacologia (XXII EBRAM)
Promoção: Sociedade Brasileira de Malacologia
Local: Universidade Federal do Ceará, Fortaleza
Período: 4 a 8 de setembro de 2011

BIOLIEF 2011 - 2nd World Conference on Biological Invasions and Ecosystem Functioning
Local: Mar del Plata, Argentina
Período: 21 a 24 de novembro de 2011

Microbiologia

26° Congresso Brasileiro de Microbiologia, organizado pela Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM)
Período: 02 a 06 de outubro de 2011,
Local: Rafain Palace Hotel e Convention Center, na cidade de Foz do Iguaçu, Paraná

VII Congresso Latino-Americano de Micologia (CLAM)
Período: 18 a 21 de julho de 2011
Local: São Pedro de Montes de Oca, Costa Rica.

Sabe de mais algum??!! Compartilhe!!!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cartilha publicada em Janeiro de 2011 questiona proposta do novo Código Florestal

O projeto do novo Código Florestal Brasileiro foi aprovado no dia 6 de julho de 2010 pela comissão especial da Câmara dos Deputados que tratava do assunto. Tal medida gerou intenso debate entre ruralistas e ambientalistas. De um lado, ambientalistas argumentam que o novo texto estimula o desmatamento, enquanto os ruralistas defendem que haverá equilíbrio entre o desenvolvimento do setor agropecuário e a preservação do meio ambiente. Diante da polêmica, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB), relator do projeto do Novo Código Florestal, alega que serão preservadas as áreas nativas e garante a possibilidade de aliança entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental.


Deputado Aldo Rebelo lê o relatório final do novo Código florestal


Em decorrência dessa discussão, o coletivo de organizações não governamentais ambientalistas SOS Florestas lançou na semana passada (31-01-11), em Brasília, a cartilha “Código Florestal: Entenda o que está em jogo com a reforma de nossa legislação ambiental”. A iniciativa pretende esclarecer, com argumentos técnicos, científicos e históricos, o que representam as mudanças defendidas pelos deputados.

A CARTILHA

Capa da cartilha sobre o novo Código Florestal.


A publicação demonstra, com linguagem acessível, que o substitutivo para o Código Florestal aprovado no ano passado, pode gerar um quadro de insegurança política, aumento generalizado de desmatamento e vulnerabilidade a desastres naturais de populações rurais e urbanas.

Com o documento, o SOS Florestas procura tornar público um debate que vem ocorrendo a portas fechadas, sem participação ativa de movimentos sociais e especialistas. O texto foi planejado para ser entregue aos parlamentares que assumiram o mandato em 1ª de fevereiro e já tem sua versão eletrônica disponibilizada na íntegra no site do WWF-Brasil.

Dentre outros temas, a cartilha alerta que a devastação de matas ciliares contribui para o assoreamento do leito dos rios, já que aumenta a velocidade de escoamento das águas, fato também responsável por erosões e enxurradas. Os prejuízos, portanto, podem atingir tanto áreas rurais quanto urbanas.

O texto publicado é baseado em diversos estudos científicos não considerados na elaboração do projeto de mudanças no Código Florestal apoiado pelos ruralistas. “Está cientificamente demonstrado que as mudanças propostas, como a anistia a desmatadores, redução de áreas de preservação permanente e diminuição de reserva legal gerariam enormes emissões de gases de efeito estufa, aumento generalizado de desmatamento em todos os biomas e vulnerabilidade da população a eventos extremos”, resume Carlos Rittl, coordenador do programa de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.

AS MUDANÇAS DO CÓDIGO FLORESTAL

O novo relatório do Código Florestal torna mais flexíveis as normas de preservação para agricultores. As mudanças, apresentadas pelo deputado Aldo Rebelo, entre outras medidas, reduzem a obrigação do produtor de proteger áreas contra o desmatamento sob o argumento de que é preciso garantir a expansão da agricultura.

Entre as principais propostas de lei para o novo código estão as formuladas por representantes da Confederação Nacional da Agricultura, entidade que defende os interesses dos ruralistas:
1.-Anistia geral a quem desmatou Reservas Legais (RLs) e Áreas de Preservação Permanente (AAPs);
2.-Redução da área da Reserva Legal no Cerrado de 50% para 20%;
3.-Redução da área de Reserva Legal da Amazônia de 80% para 50%;
4.-Reflorestamentos de eucaliptos ou de pinus (espécies exóticas!) e ainda plantios de eucalipto, manga, côco, limão ou outras culturas poderão ser consideradas como Reserva Legal, ou seja, recebem "status" de vegetação nativa;
5.-O projeto permite ainda que florestas nativas sejam convertidas em lavouras nas propriedades mais produtivas, sem necessidade de licença ambiental e legaliza a exploração econômica de florestas e outras formas de vegetação nas APPs (margens de rios, lagos e reservatórios, áreas de encosta e topos de morros). Admite, também, o uso de florestas de preservação permanente para realização de construções, abertura de estradas, canais de derivação de água e atividades de mineração e garimpo.

Mudanças adicionais são propostas pelo relator, como a atribuição de maior autonomia aos estados para legislar sobre o meio ambiente e a retirada da obrigatoriedade de reserva legal (fração destinada à preservação ambiental) em pequenas propriedades.

Manifestação no Parque do Ibirapuera, os manifestantes realizaram o enterro simbólico da água, do clima e da Legislação, no protesto contra o novo Código Florestal.

A tradução dessas alterações é abertura de condições para acelerar o processo de destruição florestal e incentivar o desmatamento. As florestas e outras formas de vegetação nativa tropical garantem a biodiversidade, estabilidade climática, qualidade do ar e da água doce, sob esse aspecto, é desejável o interesse nacional em protegê-las.

QUAIS AS REAIS CARÊNCIAS DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL?

O principal argumento do deputado Aldo Rebelo é que a lei ambiental do Código Florestal em vigor é impossível de ser cumprida por amarrar o desenvolvimento da agricultura e pecuária no país. Diz ainda, que com imposições exageradas que prevêem áreas de preservação permanente (APPs) e reservas legais (RLs), gera cerca de 90% de produtores trabalhando na ilegalidade, sobretudo no sul do país. Para anular o argumento do deputado, o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, lembrou que se tem divulgado um conceito equivocado de que o Código Florestal abriga obstáculos para o agronegócio brasileiro. Scaramuzza citou o recente artigo (“A falsa dicotomia entre a preservação da vegetação natural e a produção agropecuária”) escrito por pesquisadores das áreas de Agricultura e Meio Ambiente, que aponta para a propagação de um falso conflito entre a preservação da vegetação natural e a produção de alimentos.
Sabemos que os mais importantes entraves para a agricultura e a pecuária nacional não estão na legislação ambiental, e sim em fatores como escassez de crédito agrícola, carência de amparo técnico aos produtores, excesso de terras improdutivas e baixo investimento em infraestrutura para armazenamento e escoamento da produção. Logo, sucesso produtivo da agropecuária não depende de desmatamento. Há também possibilidade de expansão da agricultura sobre 60 milhões de hectares de pastagens extensivas pouco produtivas. Além disso, ainda que o atual Código Florestal fosse totalmente respeitado estariam disponíveis cerca de 100 milhões de hectares com possibilidade de desmatamento legal. Sendo 7% desse total com alta aptidão para a agricultura, dado que permite ao Brasil mais do que dobrar a sua área plantada. Vemos então, invalidadas, as principais defesas da Comissão Especial para alterar uma lei criada há 45 anos e que, em pleno século XXI, ainda não foi colocada em prática com total eficiência. 
O interesse da agricultura brasileira deve estar na possibilidade de continuar expandindo sua oferta sem promover desmatamento. Nosso agronegócio precisa atender à demanda e ao mesmo tempo evitar que futuramente as exportações sofram sanções comerciais baseadas na quantidade de carbono relacionado à produção de alguma commodity nacional. Fica claro então, que para prevenir um colapso do crescimento da agricultura é conveniente a defesa de uma legislação ambiental forte e que promova a sustentabilidade dos sistemas de produção em todos os setores. Para esse fim, a legislação ambiental deve manter a atividade humana e a conservação da biodiversidade em harmonia, promovendo o uso racional dos recursos naturais em benefício das gerações atuais e futuras.



Manifesto em São Paulo contra a reforma


O nosso Código Florestal, embora antigo, tem muitos elementos vanguardistas. Entretanto, tendo em vista os atuais debates sobre aquecimento global e biodiversidade, entendemos que alguma alteração possa ser bem vinda, desde que a análise de congressistas no que se refere à legislação esteja amparada por especialistas e à luz de estudos científicos. Além disso, as discussões sobre os termos devem ser abertas à sociedade como um todo, visto que direta ou indiretamente, todos seremos alvos das consequências de tais decisões.

Se se interessou pelo assunto, acesse os sites sugeridos:



Vídeos:
1-      Matéria exibida no Globo Rural de 11/07/2010, visão geral das propostas - http://www.youtube.com/watch?v=llQAb3aYo8g&NR=1

2-      Brasil: Um Planeta Faminto e a Agricultura Brasileira pode ser a opção!
Com dados tangíveis e comparações didáticas, esse vídeo mostra a evolução da produtividade, destacando a vocação do Brasil para a produção agrícola. O nosso país pode ajudar a alimentar o mundo enquanto preserva suas florestas. Basta boa vontade, ética e cooperação dos diversos seguimentos envolvidos nesse tipo de produção! -   http://www.youtube.com/watch?v=aoiP-WK3V8o

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Polêmica da Usina de Belo Monte – Uma história, vários pontos de vista!

O PROJETO
Trecho do Rio Xingu
Com início das obras previsto para começo de abril (informação do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão) a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), deve ser a terceira maior do mundo em capacidade instalada, atrás apenas das usinas de Três Gargantas, na China, e da binacional Itaipu, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Como não poderia deixar de ser, uma obra desse porte, torna-se motivo de discussões dentro do governo, entre ambientalistas e muitos brasileiros que podem ser diretamente afetados pelo projeto.
O planejamento dessa obra existe a mais de 20 anos e desde então tem sido tema de polêmicas e manifestações no Pará e em todo Brasil, mas foi com sua introdução no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, que começou a ser alvo de debates mais intensos, sobretudo a partir de 2009/2010 quando saíram respectivamente o novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e a Licença Ambiental Prévia para sua construção.
A engenharia do megaprojeto Belo Monte, inicialmente batizado de Kararaô, consiste em desviar o curso original do Rio Xingu, em um trecho conhecido como Volta Grande, que se forma entre as cidades de Altamira e Vitória do Xingu com uma enorme alça do rio no sentido anti-horário, no Pará. Esta manobra vai encurtar o caminho do rio de 1.979 km de extensão, que corre do cerrado da região central do estado do Mato Grosso ao norte da Amazônia. Sendo que a região prevista para ser mais afetada é justamente Volta Grande. Com a Belo Monte, a barreira geográfica natural das corredeiras e pedrais deixarão de existir, o que ameaça a biodiversidade presente nas regiões afetadas.
Depois de muitas idas e vindas, em fevereiro de 2010, o IBAMA concedeu a Licença Prévia para Belo Monte, impondo uma série de 40 condicionantes socioeconômicas e ambientais ao projeto. No dia 20 de abril do mesmo ano foi realizado um leilão para decidir qual grupo de empresas seria o responsável pela construção da usina. A vitória foi do consórcio Norte Energia, liderado pela construtora Queiroz Galvão e pela Chesf.  
 
QUEM ESTÁ CONTRA?

Manifestantes contra hidrelétrica no Xingu
As críticas ao empreendimento partem de movimentos sociais e lideranças ribeirinhas e indígenas, pois consideram que os impactos socioambientais não estão suficientemente dimensionados. Especialistas em meio ambiente, depois de analisar o EIA, em outubro de 2009, questionaram os estudos e a viabilidade da proposta.
Entre os temas analisados estão a viabilidade econômica do projeto, os impactos da construção deste numa área cobrindo mais de 1000 km², as consequências para as populações indígenas, o caos social oriundo da migração de mais de 100.000 pessoas para região e do deslocamento forçado de 20.000 pessoas, os impactos sobre peixes e fauna aquática em geral, a possibilidade de extinção de espécies, as emissões de grandes quantidades de gases de efeito estufa (como metano), a insegurança hídrica e alimentar, a subestimação da população atingida e subestimação da Área Diretamente Afetada (ADA). Uma crítica ao EIA de 2009 é feita pela antropóloga da Universidade Federal do Pará (UFPA), Sônia Magalhães, que diz: “O EIA subestima a população rural, de forma que a população diretamente afetada pode ser o dobro daquela indicada. Somente um novo levantamento pode confirmar o número real”. Segundo ela, os programas propostos para mitigação não contemplam a enormidade do projeto e seus impactos.
Entre os prejuízos identificados pelos estudos dos especialistas estão os que deveriam resultar do desvio de mais de 80% da vazão do Xingu para dois canais artificiais no caminho para a casa de força. Com isso a Volta Grande do Xingu sofrerá, ao longo de cerca de 100 km, redução da vazão e rebaixamento do lençol freático podendo assim provocar impactos biológicos e sociais, como deficiências na navegação e efeitos sobre as florestas inundáveis.

Indígenas que não querem Belo Monte

Adicionalmente às questões ambientais, alguns críticos apontam que a usina de Belo Monte pode ser ineficiente em termos de produção de energia, devido às mudanças de vazão no rio Xingu ao longo do ano, havendo épocas em que, pela baixa vazão do rio, a usina atingiria no máximo 39% da sua capacidade total.
Os socioambientalistas estão convencidos de que além dos impactos diretos e indiretos, Belo Monte é um cavalo de tróia, porque outras barragens virão depois, modificando totalmente e para pior a vida na região.
Exemplos de usinas mal sucessedidos são vistas na construção das hidrelétricas de Tucuruí (PA) e Balbina (AM), que desalojaram comunidades, inundaram enormes extensões de terra e destruíram a fauna e flora daquelas regiões. Diante desse quadro, é preciso questionar a forma anti-democrática como o projeto Belo Monte vem sendo conduzido, a relação custo-benefício da obra, o destino da energia a ser produzida e a inexistência de uma política energética para o país que privilegie energias alternativas.

QUEM ESTÁ A FAVOR?

Os argumentos do governo embasam-se na lógica e nas vantagens comparativas da matriz energética brasileira, alegam que o preço da energia produzida lá será bastante competitivo. É certo que os rios da margem direita do Amazonas têm declividades propícias à geração de energia, e o Xingu destaca-se pela sua posição em relação às frentes de expansão econômica da região central do país, mas é preciso refletir se tais frentes de expansão econômica não são predatórias para a biodiversidade e cultura locais. Outra importância atribuída ao empreendimento é que ele deve gerar 18 mil empregos diretos e 23 mil indiretos e deve ajudar a suprir a demanda por energia do Brasil nos próximos anos, ao produzir eletricidade para atender a 26 milhões de pessoas com perfil de consumo elevado.
Mais um argumento apresentado é o fato de o desenho de Belo Monte ter sido revisto e os impactos reduzidos em relação à proposta da década de 80, uma das modificações foi redução na extensão do lago especificado no projeto de 1.200 km² para 400 km². Entretanto, é sabido que a maior porcentagem da emissão de gases do efeito estufa não partirá da área inundada e sim do funcionamento das turbinas da hidrelétrica.
Para finalizar as respostas governamentais às críticas, o diretor de Licenciamento do IBAMA, Pedro Bignelli, afirma que uma das condicionantes impostas na licença prévia para do empreendimento determina a manutenção de uma vazão mínima no rio. Ele afirma que há projetos de preservação da fauna e flora e que as comunidades diretamente afetadas serão transferidas para locais onde possam manter condições similares de vida. O diretor também nega que as comunidades indígenas serão diretamente atingidas.
Apesar dos visíveis inconvenientes de se levar o projeto adiante, nem todos são contra. A própria região do Xingu abriga pessoas com opiniões variadas. Há quem seja a favor, contra ou aqueles que apenas rezam para que ocorra o melhor, sem fazer grandes comentários. Um bom exemplo é a pequena aldeia Paquiçamba, no oeste do Pará, dos índios juruna, onde instaurou-se o dilema entre seus moradores. A tribo decidiu se separar fisicamente por causa de divergências sobre da possível Hidrelétrica de Belo Monte. Parte da aldeia, inclusive o cacique, vê como positiva a construção da usina, de 11.233 megawatts (MW). A outra ala, representada pelos mais jovens, manifesta-se contrária ao empreendimento. Os jovens afirmam que o cacique decidiu apoiar publicamente a hidrelétrica porque ficou “iludido com as promessas feitas pelos responsáveis pelo projeto”.


            DESENVOLVIMENTO A QUALQUER CUSTO?

O movimento que apoia Belo Monte conta ainda com empresários, políticos e moradores das cidades influenciados pelo projeto. Para esse grupo, a usina é o único caminho para desenvolver a região.
Em momento nenhum nos opomos ao desenvolvimento, mas será que colocar a riqueza biológica e cultural de determinada região em risco é o único caminho para desenvolvê-la? Essa questão deveria nos levar a refletir se queremos mesmo um progresso a todo custo em busca de uma prosperidade com várias facetas e poucos beneficiados ou se é hora de parar e buscar novas formas de energia limpa que não afete a diversidade de uma região, mas que da mesma forma traga emprego, dinheiro e energia para o país.
“Não há como vivermos em paz com nós mesmos se ainda nos iludimos com o conceito de prosperidade que nos contam.” (Benjamim Júnior).  


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