quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Não deixe o óleo vegetal pesar na sua consciência!!!

Você acha que o óleo vegetal depois de usado não tem mais utilidade? Não sabe como descartá-lo e acaba juntando potes de óleo usado ou até mesmo jogando no ralo e poluindo os cursos d’água? Pois saiba que ele pode virar um ótimo combustível para o seu carro ou ser usado na fabricação de sabões e ração para animais.

Dentre os materiais que representam riscos de poluição ambiental e, por isso, merecem atenção especial, figuram os óleos vegetais usados em processos de fritura.
Para se ter uma idéia, a fritura é um processo que utiliza óleos ou gorduras vegetais como meio de transferência de calor, cuja importância é indiscutível para a produção de alimentos. O tempo de utilização do óleo varia de um estabelecimento para outro, principalmente pela falta de legislação que determine a troca do óleo usado. Por essa razão, considerando a grande diversidade de estabelecimentos que utilizam esse material, é difícil fazer um levantamento preciso da disponibilidade desse resíduo em grandes centros urbanos. 
Um levantamento primário da oferta de óleos residuais de frituras, suscetíveis de serem coletados, revela um potencial de oferta no país superior a 30 mil toneladas por ano. Algumas possíveis fontes dos óleos e gorduras residuais são: lanchonetes e cozinhas industriais, indústrias onde ocorre a fritura de produtos alimentícios, os esgotos municipais onde a nata sobrenadante é rica em matéria graxa, águas residuais de processos de indústrias alimentícias.
De um modo geral, o aproveitamento integrado de resíduos gerados na indústria alimentícia pode evitar o encaminhamento destes para aterros sanitários, permitindo o estabelecimento de novas alternativas empresariais e minimizando o impacto ambiental do acúmulo destes resíduos.
Nossa proposta aqui é discutir a uso do óleo residual de fritura como fonte de matéria prima para obtenção de biodiesel, detergentes ou mesmo ração animal, ressaltando seus benéficos ambientais e econômicos.

Por que devemos nos preocupar???

Estima-se que cada litro de óleo despejado no esgoto urbano tem potencial para poluir cerca de um milhão de litros de água, o que equivale à quantidade que uma pessoa consome ao longo de quatorze anos de vida.
A pequena solubilidade dos óleos vegetais na água configura um fator negativo no que se refere à sua degradação em unidades de tratamento de despejos por processos biológicos e, quando presentes em mananciais utilizados para abastecimento público, causam problemas no tratamento da água. Sem falar que o acúmulo de gorduras nos encanamentos pode causar entupimentos, refluxo de esgoto e até rompimentos nas redes de coleta. Outro ponto negativo é que esse óleo também impermeabiliza o solo e assim contribui para o agravamento de enchentes. 
A presença deste material, além de acarretar problemas estéticos à paisagem, diminui a área de contato entre a superfície da água e o ar atmosférico impedindo a transferência do oxigênio da atmosfera para a água. Além disso, óleos e graxas em seu processo de decomposição, reduzem o oxigênio dissolvido elevando a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio - quantidade de oxigênio consumido durante um determinado período de tempo, numa temperatura de incubação específica), causando alteração no ecossistema aquático. Um baixo teor de oxigênio dissolvido nas águas é fatal para um ecossistema com um todo.

Legislação brasilleira

Apesar de não haver, ainda, uma legislação específica para descarte de óleos, consta no decreto federal nº 3179, de 21 de setembro de 1999, artigo 41, parágrafo 1°, inciso V, a aplicação de multas de até R$ 50 milhões "a quem causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora, através do lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos ou detritos, óleos ou substâncias oleosas em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos".

Da cozinha para a estrada...

Cerca de 40% de toda a energia consumida no mundo provém do petróleo, do carvão e do gás natural. Essas fontes são limitadas e com previsão de esgotamento no futuro, portanto, a busca por fontes alternativas de energia é de suma importância.
É aí que os biocombustíveis assumem papel considerável, sobretudo o biodisel, um biocombustível 100% renovável e alternativo ao diesel derivado do petróleo. Ele pode ser usado em qualquer motor diesel sem alterações na parte mecânica, não havendo perda de potência nem rendimento do veículo. Neste contexto, os óleos vegetais aparecem como uma excelente alternativa para substituição ao óleo diesel em motores de ignição por compressão.
O óleo, depois de usado, torna-se um resíduo indesejado e sua reciclagem como biocombustível não só retiraria do meio ambiente um poluente, mas também permitiria a geração de uma fonte alternativa de energia, reduzindo a dependência de importação de petróleo. Assim, duas necessidades básicas seriam atendidas de uma só vez.

Ainda há outra vantagem em fabricar o biodiesel a partir de óleo vegetal usado, o combustível possui características lubrificantes, polui menos (já que não leva ácido sulfúrico) e não contribui para agravar o efeito estufa e o aumento da temperatura do planeta.
A implantação deste combustível na matriz energética brasileira resultaria em um impacto ambiental positivo já que, além de dar um destino adequado aos óleos residuais, sua utilização na frota de veículos reduziria drasticamente a emissão de gases poluentes, como o dióxido de carbono, responsável pelo efeito estufa, além de eliminar completamente o enxofre, um dos principais vilões da chuva ácida.
Com relação ao rendimento da reação que origina o biodisel, pode-se dizer que 100 kg de óleo reagem com 10 kg de álcool gerando 100 kg de biodiesel e 10 kg de glicerina, esta ainda pode ser aproveitada na fabricação de sabões.

Resíduo é transformado em material de limpeza!    

Uma boa opção para reaproveitar o óleo usado é transformá-lo em sabão, aliás, essa atividade pode ser feita em casa e ainda gerar uma renda extra para a família. Mas o material também pode ser enviado a empresas que o transformam em produto de limpeza.
O sabão produzido com essa matéria prima tem a vantagem de ser biodegradável, que se decompõe por bactérias depois de usado. Além de ser ecológico, já que evita que o óleo chegue aos cursos d’dágua e desencadeie todos os danos já discutidos.
Para quem gostou da ideia de fabricar o sabão em casa, abaixo segue uma receita simples. Apenas recomendamos cuidado ao manusear a soda cáustica!

Sabão caseiro:   
1.     Peneire o óleo para retirar os resíduos e impurezas;
2.    Aqueça o óleo sem deixar ferver;
3.    Use luvas e adicione soda cáustica (350ml para cada litro de óleo);
4.    Para dar perfume ao sabão, adicione 1ml de aromatizante ou amaciante.
5.    Mexa lentamente durante 20minutos;
6.    Deixe descansar por um dia se for cortar em barras;
7.    Após uma semana o sabão está pronto para ser usado.

Ração para animais

Depois de usar sobras de óleo de cozinha como componente para a fabricação de biodiesel e também de sabão, agora técnicos da Universidade Federal de Lavras (UFLA) usam o material que é descartado para alimentar o gado.
O teste está sendo feito na fábrica de ração da universidade. O óleo é misturado ao alimento que é consumido pelo gado, conferindo ao produto uma cor mais forte. Um aspecto importante é que o preço da ração caiu cerca de 10%. 

Segundo pesquisadores, a substituição da ração não alterou o ganho de peso dos bois, que são da raça Red Norte. Como seguimento do projeto, os animais alimentados com a ração especial passam por análises que determinam os níveis de colesterol, a maciez e a coloração da carne dos animais tratados com a ração misturada ao óleo de fritura.

Conclusão   

Depois dessa reflexão, fica a ideia de que vale a pena reutilizar o óleo descartado de frituras para a obtenção de outros produtos. Dessa forma, é dado um destino mais adequado a este resíduo agroindustrial que, no Brasil, é desprezado e/ou parcialmente aproveitado de maneira muitas vezes inadequada.
Além da inegável vantagem ecológica da iniciativa, o aspecto econômico certamente deve ser visto de forma ampla, não só pelo valor do biodiesel, sabão ou ração produzidos, mas pelos valores agregados como criação de empregos, redução de despejos no ambiente e melhoria de qualidade de vida e do ar, com paralela geração de divisas para o país.