segunda-feira, 30 de julho de 2012

Apenas agentes polinizadores? Não: “agentes da biodiversidade”!



A perpetuação de certas espécies depende da polinização
A polinização é um serviço ecológico fundamental, que ocorre com a participação de agentes variados como vento, água e principalmente animais incluindo insetos tais como abelhas, borboletas, mariposas, moscas, besouros e também morcegos, pássaros além de outros vertebrados.
E é quando se fala em animais como agentes polinizadores, que a biodiversidade torna-se fator crucial para eventos de polinização bem sucedidos. A diversidade de plantas silvestres e a variabilidade de plantas cultivadas dependem da diversidade de polinizadores. Quando há uma queda no número de polinizadores, a reprodução de boa parte das plantas é diretamente afetada, refletindo na sustentabilidade da agricultura, já que existe a estimativa é de que 3/4 das plantas agrícolas que alimentam o mundo e muitas plantas utilizadas para a indústria farmacêutica dependem da polinização por insetos ou outros animais para produzir frutos e sementes (ASCOM MMA).
Elaeidobius kamerunicus
Um exemplo da influência do polinizador na produção está num estudo de caso que a aponta presença do inseto Elaeidobius kamerunicus, polinizador da cultura do dendê, como responsável por aumentar a produtividade da cultura em torno de 11%.
Em diversas partes do mundo, a produção agrícola e a diversidade de agro-ecossistemas são ameaçadas pelos declínios das populações de polinizadores. Na América do Norte, onde o desaparecimento de abelhas (polinizadores mais manejados para sustentar o agronegócio) tem sido de 30% das colônias por ano, a agricultura já recorre à importação desses insetos para promover a polinização na agricultura. Na Comunidade Europeia, a perda também é expressiva e preocupante.
Abelhas polinizando meloeiro no semiárido
Algumas plantas recebem visitas de muitos polinizadores diferentes, enquanto outras têm exigências específicas. O mesmo acontece para os polinizadores; com representantes bastante generalistas e outros altamente especializados. Portanto, os riscos de perda dos serviços de polinização são especialmente graves quando a agricultura é dependente de uma só espécie de polinizador, nesses casos, o sumiço de um agente é capaz de desencadear um sério colapso na produção.
Diante das importantes consequências tanto para a biodiversidade como para o agronegócio, a polinização já é considerada um "serviço ambiental relevante" e merece atenção em projetos de manejo agrícola ou nas ações conservacionistas. Trabalhos recentes indicam tanto seu valor econômico, estimado em vários bilhões de dólares no nível global, quanto a existência de um processo global de declínio dos polinizadores. Várias espécies de polinizadores estão cada dia mais ameaçadas pela perda do habitat (desmatamento, queimadas), pela exposição excessiva a pesticida, pelos os parasitos e doenças, pela a introdução de espécies exóticas e até mesmo pelos cheiros gerados pela poluição (uma série de evidências sugere que o aroma das flores pode ser vital no trabalho de insetos polinizadores).

O pólen cai sobre o corpo do polinizador e chega ao estigma de outras flores enquanto o animal busca por alimento ou abrigo. Foto: http://www-honey.com/bee-pollen-benefits/
No Brasil, a relação entre o uso de produtos químicos nas lavouras e o desaparecimento de insetos começou a ser identificada há pouco mais de quatro anos. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em 2012, avaliou alguns registros sobre a redução do número de abelhas - grupo mais importante de polinizadores, com mais de 25.000 espécies diferentes - em várias partes do país, em decorrência de quatro tipos de agrotóxico, e decidiu restringir o uso de importantes inseticidas na agropecuária brasileira, principalmente para as culturas de algodão, soja e trigo.
Glossophaga soricina em Passiflora mucronata
 É interessante lembrar às autoridades que a polinização envolve relações complexas entre planta e animal e a redução ou perda de qualquer um dos dois afetará a sobrevivência de ambos com consequências que não ficarão restritas aos problemas ecológicos. O deficit de agentes polinizadores nos ecossistemas gera em baixa na produtividade e na qualidade de produtos agrícolas, o que em longo prazo pode desencadear uma crise na produção de alimentos. Dessa forma é mais do que urgente o desenvolvimento de projetos sérios de manejo que possam preservar a relação espécie vegetal/polinizador incentivando o uso sustentável e restauração da diversidade de polinizadores tanto de plantas silvestres quanto das cultivadas.


DICA DE LEITURA:Polinizadores no Brasil – Contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais”, lançado nesta quinta-feira (26-07), durante o 10º Encontro sobre Abelhas de Ribeirão Preto, na cidade do interior paulista.
O livro apresenta os resultados das pesquisas realizadas pelos autores e tem o objetivo de formular uma política pública para polinizadores. Temas como a importância da paisagem agrícola na manutenção dos serviços dos polinizadores e a necessidade de aumentar o número de coleções biológicas para o estudo da fauna de abelhas são alguns dos destaques do texto. A obra aborda ainda espécies invasoras e o efeito das ações antrópicas sobre a conservação e uso dos polinizadores.

DICA DE VÍDEO: vale a pena conferir “The beauty of pollination”


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