A perpetuação
de certas espécies depende da polinização
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A polinização é um serviço ecológico
fundamental, que ocorre com a participação de agentes variados como vento, água
e principalmente animais incluindo insetos tais como abelhas, borboletas,
mariposas, moscas, besouros e também morcegos, pássaros além de outros
vertebrados.
E é quando se fala em animais como agentes
polinizadores, que a biodiversidade torna-se fator crucial para eventos de polinização
bem sucedidos. A diversidade
de plantas silvestres e a variabilidade de plantas cultivadas dependem da
diversidade de polinizadores. Quando há uma queda no número de polinizadores, a reprodução
de boa parte das plantas é diretamente afetada, refletindo na sustentabilidade
da agricultura, já que existe a estimativa é de que 3/4 das plantas agrícolas
que alimentam o mundo e muitas plantas utilizadas para a indústria farmacêutica
dependem da polinização por insetos ou outros animais para produzir frutos e
sementes (ASCOM MMA).
Elaeidobius kamerunicus |
Um exemplo da influência do polinizador na
produção está num estudo de caso que a aponta presença do inseto Elaeidobius kamerunicus,
polinizador da cultura do dendê, como responsável por aumentar a produtividade
da cultura em torno de 11%.
Em diversas partes do mundo, a produção agrícola e a diversidade
de agro-ecossistemas são ameaçadas pelos declínios das populações de
polinizadores. Na América do Norte, onde o desaparecimento de abelhas (polinizadores
mais manejados para sustentar o agronegócio) tem sido de 30% das colônias por
ano, a agricultura já recorre à importação desses insetos para promover a
polinização na agricultura. Na Comunidade Europeia, a perda também é expressiva
e preocupante.
Abelhas polinizando meloeiro no semiárido |
Algumas plantas recebem visitas
de muitos polinizadores diferentes, enquanto outras têm exigências específicas.
O mesmo acontece para os polinizadores; com representantes bastante
generalistas e outros altamente especializados. Portanto, os riscos de perda dos
serviços de polinização são especialmente graves quando a agricultura é
dependente de uma só espécie de polinizador, nesses casos, o sumiço de um
agente é capaz de desencadear um sério colapso na produção.
Diante das importantes consequências tanto
para a biodiversidade como para o agronegócio, a polinização já é considerada um
"serviço ambiental relevante" e merece atenção em projetos de manejo
agrícola ou nas ações conservacionistas. Trabalhos recentes indicam tanto seu
valor econômico, estimado em vários bilhões de dólares no nível global, quanto a
existência de um processo global de declínio dos polinizadores. Várias espécies
de polinizadores estão cada dia mais ameaçadas pela perda do habitat (desmatamento,
queimadas), pela exposição excessiva a pesticida, pelos os parasitos e doenças, pela a introdução de espécies exóticas e
até mesmo pelos cheiros gerados pela poluição (uma
série de evidências sugere que o aroma das flores pode ser vital no trabalho de
insetos polinizadores).
O pólen cai sobre o
corpo do polinizador e chega ao estigma de outras flores enquanto o animal
busca por alimento ou abrigo. Foto: http://www-honey.com/bee-pollen-benefits/
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No
Brasil, a relação entre o uso de produtos químicos nas lavouras e o
desaparecimento de insetos começou a ser identificada há pouco mais de quatro
anos. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), em 2012, avaliou alguns registros sobre a redução do número
de abelhas - grupo
mais importante de polinizadores, com mais de 25.000 espécies diferentes - em
várias partes do país, em decorrência de quatro tipos de agrotóxico, e decidiu
restringir o uso de importantes inseticidas na agropecuária brasileira,
principalmente para as culturas de algodão, soja e trigo.
Glossophaga soricina em Passiflora mucronata |
É interessante lembrar às autoridades que a polinização envolve
relações complexas entre planta e animal e a redução ou perda de qualquer um
dos dois afetará a sobrevivência de ambos com consequências que não ficarão
restritas aos problemas ecológicos. O deficit de agentes polinizadores nos ecossistemas gera
em baixa na produtividade e na qualidade de produtos agrícolas, o que em longo
prazo pode desencadear uma crise na produção de alimentos. Dessa forma é mais
do que urgente o desenvolvimento de projetos sérios de manejo que possam preservar
a relação espécie vegetal/polinizador incentivando o
uso sustentável e restauração da diversidade de polinizadores tanto de plantas
silvestres quanto das cultivadas.
DICA DE LEITURA: “Polinizadores no
Brasil – Contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável,
conservação e serviços ambientais”, lançado nesta quinta-feira (26-07), durante
o 10º Encontro sobre Abelhas de Ribeirão Preto, na cidade do interior paulista.
O livro apresenta os resultados
das pesquisas realizadas pelos autores e tem o objetivo de formular uma
política pública para polinizadores. Temas como a importância da paisagem
agrícola na manutenção dos serviços dos polinizadores e a necessidade de
aumentar o número de coleções biológicas para o estudo da fauna de abelhas são
alguns dos destaques do texto. A obra aborda ainda espécies invasoras e o efeito
das ações antrópicas sobre a conservação e uso dos polinizadores.
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